terça-feira, 31 de março de 2009

momento

pintou as unhas dos pés de vermelho. não era um hábito e passou a andar insegura. mesmo duvidosa de que seria confortável para si mesma (e confortável aqui quero dizer adequado ao seu caráter), insistiu - amarrou a sandália amarela no tornozelo, e com a bolsa a tiracolo trancou a porta de fora. esperou impaciente, como sempre, o elevador. entrou. sua intenção era chegar à garagem no subsolo e ao contrário ele foi acionado no décimo andar. franziu a testa chateada - está aí uma coisa desagradável. esperou. o rapaz que abriu a porta no décimo entrou com um boa noite entre lábios, tristonho, e não a olhou nos olhos. ela o observou por uns instantes; aquele olhar abatido buscando nas paredes do cúbiculo onde se fixar. parece que o chão é o lugar mais seguro nesses momentos, ele não queria contato. ela continuou o observando curiosa e percebeu que os olhos dele pararam em seus pés, e que agora daqueles lábios serrados se abria um sorriso. unhas vermelhas - ela lembrou e desviou o rosto envergonhada. um até logo de despedida quando ele desceu no térreo e dessa vez de cabeça erguida e bochechas mais coradas, ela respondeu contagiada e a porta se fechou, no espelho a menina era brilho.

sábado, 28 de março de 2009

um dia dois dias três

exausta deito na cama e fecho os olhos.
passam imagens no fundo escuro, flashes dos dias, dois... três... quatro atrás
exausta suspiro, abro os olhos,
a luminária acima da minha cabeça me cega.
passo um tempo assim, olhando a luz, cega, que produz imagens manchadas. borrões.
foram meus dias atrás, dois... três... quatro
circunspectos, cínicos, afogados, ofegantes
nódoas de tempo corrido, misto de cheio e vazio...
de alegre e triste, almas acessíveis e trancadas.
exausta me deixo embrigar de luz
sorrio
vou dormir.

sexta-feira, 27 de março de 2009

blos.som


(fotografia: eu mesma)

quinta-feira, 12 de março de 2009

rimas bacanérrimas sacaninhas

me deixe em paz que eu não quero mais sofrer
venha de coração e sem dizer não eu vou ceder
porque eu sou fraca mesmo e feita de querer
então é só insistir dizer o que quero ouvir e vai (me)ter
o que mete medo vai embora mais cedo e deixa viver
porque eu quero mais é ... ... ... .... viver
se você já nem sabe mais o que fazer
o problema é seu só seu e eu quero mais é que vá se...

tinto seco

mancha a boca e exige a garrafa de água ao lado da cama para sanar a sede da noite
sede pós alcool
sede tola

antes fora antídoto de felicidade, sorriso rubro
gargalhadas e palavras confusas
carinhos desmedidos

empurrados pela sede de antes, de corações atrelados por... nada
sede pré alcool
sede ansiada

mas... o que é de matar é de fazer viver!

sábado, 7 de março de 2009

trecho 2 - da saudade

abri o livro na página que dizia: "Eu conheço diversas formas de definir saudades. Há pessoas que afirmam: saudade é um bichinho que rói, outras dizem que ela mata a gente. O meu amigo Glênio Peres, por exemplo, em uma belíssima composição de sua autoria, diz que a saudade é saudade mesmo. Eu já digo de forma diferente: saudade é vontade de ver de novo."

"Saudade é vontade de ver de novo", agora eu plagio. vontade de ver e de mais tantos quantos forem os verbos que combinarem com a dobradinha: vontade de novo.

simples assim!

para não ficar orfã a citação: o livro, Foi Assim, é uma coletânea de crônicas do Lupicínio Rodrigues contando as histórias das suas músicas, como define o editor.

terça-feira, 3 de março de 2009

silhueta

sugestiva essa silhueta.
sugestiva de pensamentos ansiosos, ávidos -
querem tocar, mas é delicada e furtiva - já foi.

indecisa silhueta.
oscilando com o vento, tempo...
influenciada pela lua, nua, foi.

silhueta imprecisa.
redundante.
insana, deslumbrada,
docilmente ofuscante,
amante.

é sinuosa tal silhueta
de curvos traços, reticências tantas

... iluminada
vista turva provoca silhueta
e o resto é alegoria.



(fotografia: eu mesma)